sábado, 2 de abril de 2011

Definitivo




Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas,
 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
 
tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que
 
gostaríamos de ter compartilhado,
 
e não compartilhamos.
 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
 
amigo, para nadar, para namorar.
 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
 

Por que sofremos tanto por amor?
 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
 
companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
 
verso:
 

Se iludindo menos e vivendo mais!
 
A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida
 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
 
sofrimento, perdemos também a felicidade.
 

A dor é inevitável.
 

O sofrimento é opcional...


Carlos Drummond de Andrade

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